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REAPRENDER A ENSINAR

Quem é esse ser humano que não conhece o mundo sem as redes sociais, sem a hipertextualidade, sem as tecnologias móveis?

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por AKEMI KAWAGOE ex-Coordenadora de EaD do IPDE

Quando comecei a escrever este texto, logo me dei conta de que a minha linguagem linear era precária para estabelecer diálogos em um tempo não linear. Explico: nos dias atuais, as mudanças são permanentes e imprevisíveis, qualquer coisa que seja dita pode virar falácia em segundos.


A era do conhecimento cedeu lugar à era da velocidade, na qual não basta aprender, mas é necessário aprender em ritmo frenético, uma tentativa quase desumana de acompanhar as transformações por que passa o mundo. Em menos de uma década, antes de os indivíduos se adaptarem às mu- danças e ao tempo, a imprevisibilidade ganha espaço. Eu chamaria esta nova fase de era quântica, na qual o maior tesouro é a capacidade de adaptar-se ao imprevisível.

A imprevisibilidade perpasSa o nosso cotidiano em diversos aspectos. Já não se pode prever o futuro. É difícil imaginar a vida útil das novidades tecnológicas do mercado, a meia-vida das identidades nas redes sociais, a quantidade de informações que será gerada nos próximos dias.

Mas o que acontece com o indivíduo que nasce neste tempo? Quem é esse ser humano que não conhece o mundo sem as redes sociais, sem a hipertextualidade, sem as tecnologias móveis?

Este indivíduo é aquele que mergulha sem medo nesse ema- ranhado de informações, que consome, separa e descarta tecnologia de modo tão natural e transita com facilidade entre as personagens que cria nas dimensões reais e virtuais. É o novo ser humano, com alto grau de exigência no que diz respeito ao tempo, ao espaço e ao nível de interação.

Do ponto de vista da educação, o desafio é estabelecer um diálogo entre a geração dos discos de vinil, que não conhece outra educação senão a compartimentalizada e a geração das redes sociais. A começar pelo sistema educacional e a institucionalização do saber, as metodologias vem sendo pressionadas a mudanças para manter níveis de interação que promovam aprendizagem em relações mais humanizadas.

À medida que os indivíduos se apropriam do tempo e adquirem consciência de suas necessidades de aprendizagem, a educação vai sendo impulsionada a criar meios de promover interações mais ágeis, que respeitam o espaço e as dinâmicas individuais. Nesse sentido, não há mais espaço para hierarquização, porque não há mais fronteiras entre o aprender e o ensinar. Também não há mais sentido nas questões espaciais, aprender não depende mais de um espaço físico, mas de uma interação mais efetiva entre iguais. 

E então? O que fazer? 

É preciso construir um novo modelo de educação, dinâmico e capaz de se adaptar ao tempo, ao espaço e, de fato, centrado no indivíduo. Os sistemas devem ser flexíveis para aprender com o indivíduo e incorporar os saberes que ele traz em razão de suas vivências. 

É preciso reconhecer a inexistência de fronteiras e organizar o processo educativo de forma a permitir e facilitar a construção de saberes de forma coletiva. Precisamos, para tanto, aprender além de aprender e aprender também a ensinar. O cenário atual obriga a que se abra mão do palanque e da hierarquia em favor de uma edu- cação baseada em laços, afetividade e relacionamento: elementos que atravessam os tempos. 

Diante disso, um artigo em meio impresso, escrito de forma linear, é uma contradição, mas o conteúdo talvez represente uma questão para refletir. 

Pelo menos, escrever em primeira pessoa e deixar que esse assunto pareça assim carregado de emoções e incertezas é um indício de que estamos caminhando para encarar a imprevisibilidade e reaprender a ensinar.